Ítalo-brasileiro
Um ítalo-brasileiro é um cidadão que tenha ascendentes italianos. Também são consideradas ítalo-brasileiras pessoas nascidas na Itália mas radicadas no Brasil.
Segundo dados da embaixada italiana no Brasil, cerca de 25 milhões de brasileiros são descendentes de imigrantes italianos, descendentes de uma enorme massa de imigrantes italianos chegados ao Brasil entre 1870 e 1960. A comunidade de descendentes de italianos no Brasil é considerada a maior do mundo.
Estima-se que 15% dos brasileiros sejam ítalo-descendentes. Alguns ítalo-brasileiros mantêm certos costumes tradicionais italianos, principalmente a culinária italiana. A contribuição dos italianos é notável em todos os setores da sociedade brasileira, principalmente na mudança sócio-econômica que os italianos produziram no campo e nas cidades. Podemos citar desde o modo de vida que mudou profundamente influenciado pelo catolicismo, bem como nas artes, música, arquitetura, alimentação e no empreender italiano na abertura de empresas, e também como trabalhadores especializados. No campo podemos citar a introdução de novas técnicas agrícolas, e principalmente na mudança do latifúndio para pequenas propriedades agrícolas e na introdução da policultura de produtos. A grande maioria dos ítalo-brasileiros está no sul e no sudeste do Brasil, mas há ítalo-brasileiros também em outras regiões do Brasil.
Muitos ítalo-brasileiros já residentes no Brasil, em especial no sul, migrariam para estados do Centro Oeste – em especial para o Mato do Grosso do Sul.
No Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo alguns ítalo-brasileiros ainda falam italiano e outros dialetos regionais da Itália. Mas ítalo-brasileiros mais jovens costumam falar apenas português.
Origens
A maioria dos italianos que emigraram para o Brasil eram do Norte da Itália, cerca de 53% do total, portanto a maioria dos ítalo-brasileiros têm origens no Norte do País. Cerca de 32% vieram do Sul da Itália e cerca de 14% do Centro. A região que mais mandou emigrantes para o Brasil foi o Vêneto, no Norte da Itália, com cerca de 30% do total, seguido pela Campânia (12,1%) e a Calábria (8,2%), ambas no Sul.
Região | Porcentagem |
Norte | 53,30% |
Sul | 32,10% |
Centro | 14,60% |
Região | Porcentagem |
Veneto | 26,60% |
Campania | 12,10% |
Calabria | 8,20% |
Lombardia | 7,70% |
Toscana | 5,90% |
Friuli-VeneziaGiulia | 5,80% |
Trentino- Alto Adige | 5,30% |
Emilia-Romagna | 4,30% |
Basilicata | 3,80% |
Sicilia | 3,20% |
Piemonte | 2,80% |
Puglia | 2,50% |
Marche | 1,80% |
Molise | 1,80% |
Lazio | 1,10% |
Umbria | 0,80% |
Liguria | 0,70% |
Sardenha | 0,40% |
Vale de Aosta | 0,00% |
Distribuição pelo Brasil
Estado | População total | População com ascendência italiana | Porcentagem de ítalo-descendentes |
São Paulo | 33 milhões | 9,9 milhões | 30,00% |
Paraná | 9,2 milhões | 3,7 milhões | 39,00% |
Rio Grande do Sul | 9,5 milhões | 2,1 milhões | 22,00% |
Santa Catarina | 4,5 milhões | 2,7 milhões | 60,00% |
Espírito Santo | 2,6 milhões | 1,7 milhão | 65,00% |
Minas Gerais | 15,8 milhões | 1,3 milhão | 8,00% |
Rio de Janeiro | 14,1 milhões | 600 mil | 4,00% |
Região Norte | 8,89 milhões | 1, milhão | 6,80% |
Região Centro- Oeste | 10,38 milhões | 400 mil | 4,00% |
Região Nordeste | 42,8 milhões | 150 mil | 0,35% |
Total no Brasil | 151 milhões | 23,55 milhões | 15,60% |
Identidade étnica
Segundo um estudo sociológico, o núcleo interno da comunidade de origem italiana no Brasil é composto de algo como 80.000 pessoas nascidas na Itália e 1,5 milhão de ítalo-brasileiros conscientes de suas origens. Em torno deles há uma camada de dois ou três milhões de pessoas que sabem que têm alguns antepassados italianos, sem dar maior importância a isso, e um número impreciso, talvez de 10 ou 12 milhões de brasileiros de ascendência italiana, que não sabem de suas origens italianas ou que não consideram isso importante.
Uma observação empírica mostra que a "área cultural italiana" no Brasil, ou seja, aquelas regiões brasileiras onde existe uma influência em potencial de associações comunitárias, não excede a dois ou três milhões de pessoas, e com grandes diferenças internas. Algumas famílias brasileiras de origem italiana baseiam a sua identidade e coesão na origem italiana. Esta tendência está mais presente nas classes mais altas do que nas mais baixas, e mais no campo do que nas cidades. A identidade é muitas vezes mais ligada a origens regionais no Vêneto, Campânia, Calábria ou na Lombardia do que na própria Itália em si. Muitas vezes confinados a uma memória compartilhada do ato traumático da migração do ancestral italiano (fazendo uma contradição satisfatória com a atual situação financeira privilegiada dessas famílias). Essa influência italiana raramente passa pela língua falada ou por hábitos distintos.
Há a tendência da "redescoberta das raízes", do qual os protagonistas são jovens profissionais, intelectuais e artistas em forma dominante. Estes indivíduos têm um interesse ativo pela Itália e sua cultura; aprendem a língua, se podem viajam como turistas, tentam encontrar algum parente na Itália e requerem a dupla cidadania. Existe também o grupo de brasileiros que usam do fato de descenderem de italianos para se colocarem como agentes de troca entre o Brasil e a Itália. São comerciantes, dirigentes de empresas industriais, donos de pequenos negócios. Aprendem italiano, estabelecem relações de trabalho com a Itália, fazem viagens.
Embora haja esse movimento, são poucos os casos de brasileiros que usam de sua ascendência italiana para imigrarem para a Itália e lá se estabelecem. São mais comuns os casos de ítalo-brasileiros interessados pela Itália que preferem buscar bolsas de estudos temporários ou fazem viagens de turismo para conhecer o País, ao invés de tentarem se fixar na Itália. Os brasileiros (de origem italiana ou não) são muito orgulhosos do Brasil, e têm a ideia de que há no próprio Brasil espaço para o seu densenvolvimento. Não existe uma "crise de identidade" entre os ítalo-brasileiros, como frequentemente acontece entre os descendentes de italianos na Argentina e principalmente no Uruguai.
Os descendentes de italianos no Brasil são completamente integrados aos outros brasileiros. Embora tenham enfrentado alguns estigmas, como no período conturbado do início do século XX e durante a Guerra Mundial, atualmente gozam de algumas "vantagens" sociais (devido ao "prestígio" que a Itália tem atualmente). A separação não chega a formar guetos, bairros tipicamente italianos como as Little Italy encontradas nos Estados Unidos. Os ítalo-brasileiros estão plenamente integrados, orgulhosos de seu status no Brasil, livres de todas as formas de discriminação em razão da sua identidade ou origem étnica. Há ítalo-brasileiros em todas as profissões e em todos os níveis de governo e instituições. A "italianidade" aparece como um atributo secundário, embora importante e destacado; é mais um "modo de ser brasileiro" do que uma identidade separada. Essa identidade é vista de diferentes maneiras, dependendo da classe social, da família e do nível cultural. Para alguns, ser italiano (e sobretudo, ser vêneto, calabrês, campanês ou friulano) é algo que remete ao âmbito doméstico, à família e a entes queridos. Para outros, é uma pesquisa de suas raízes, principalmente em uma dimensão cultural. Para outros, é uma estratégia de se inserir no mercado de trabalho, para encontrar empregos em empresas italianas, no comércio exterior etc.
Uma "identidade italiana" foi por muito tempo débil no Brasil. Os imigrantes que chegavam eram mais ligados a uma identidade regional do que nacional. A Itália era um país há pouco tempo unificado, e a identidade nacional era bem mais fraca que o regionalismo. A consciência dos imigrantes de que pertenciam a um mesmo país só surgiu, a duras penas, no início do século XX, pelo fato de se perceberem estrangeiros e também por ação da opinião pública brasileira que tendia a uniformizá-los. Por muito tempo, porém, o que predominou foi o regionalismo, inclusive pela própria concentração de italianos de uma mesma região dentro de um mesmo espaço geográfico. No Sul do Brasil prevaleceram núcleos coloniais habitados somente por vênetos ou trentinos ou lombardos, enquanto que em São Paulo havia bairros monorregionais: os calabreses se concentravam no Bixiga, os vênetos no Bom Retiro e os apulienses no Brás.
Os italianos se assimilavam fácil no Brasil, se casavam com brasileiros de todas as raças e classes sociais, adotando os hábitos brasileiros e a identidade nacional, assim como se casavam com imigrantes de outras nacionalidades. Porém seus descendentes preservaram alguns hábitos culturais italianos, sobretudo a culinária italiana que ainda é muito forte no Brasil.